
O tratamento dado pela Rede Globo ao que ocorreu sob o edredom, entre Monique e Daniel, do BBB 12, empurra o reality show para uma zona pantanosa, perigosa demais até para um campeão de audiência. Para quem ainda não foi bombardeado pela discussão: depois da festa do sábado, Daniel aparece movimentando-se sob o edredom, enquanto Monique parece estar inconsciente, o que levou o público a afirmar, nas redes sociais, que teria ocorrido um estupro. Monique foi chamada ao confessionário, mas ninguém viu e ouviu o que a moça contou a Boninho. A versão dele é de que tudo o que aconteceu foi consentido, e ela não sofreu abuso.
Palavra de Boninho, versão da emissora. É possível que ele, o todo poderoso do BBB, esteja coberto de razão. E é possível também que Monique, espertamente, venha a usar o episódio para criar uma personagem vitimizada, ganhe o jogo e o milhão e meio de reais. São possibilidades, apenas. Mas a condução do caso pela Globo até aqui parece considerar mais importantes as regras internas do BBB do que a lei e a ética.
A reação do público mostra que, apesar de o Big Brother estar longe de ser um programa com mensagens edificantes, há um limite. E o público, ao contrário do que pensam os que odeiam o BBB, não é estúpido. Em bom português: nem mesmo um show de horrores pode encobrir uma suspeita de abuso sexual. O caso que mobiliza as redes sociais pode não passar de uma fantasia, de uma polêmica que impulsiona a audiência. Mas a direção do programa e da emissora até agora não fizeram o que era esperado: esclarecer e provar que não houve abuso, deixando claro que não compactua sequer com a suspeita desse tipo de episódio dentro da casa do BBB.
A tensão sexual e o que as câmeras fingem mostrar – ou fingem não mostrar, dependendo do momento – são responsáveis por uma boa dose de audiência do BBB. As festas regadas a álcool, com jovens musculosos e garotas esculpidas com academia e silicone atiçam o público. E se não houver uma cena de edredom após uma das festas, o público e a emissora consideram que foi um fracasso. É do jogo, e se o público assim pede, que assim seja. Mas na madrugada de domingo o BBB ultrapasssou uma fronteira. E quem diz isso é o público.
O caso provocou um inédito levante de celebridades, algumas delas contratadas de Globo, que pedem a saída imediata do ‘brother’ Daniel. No momento em que a emissora finge que o caso não ocorreu, o levante de atores com Deborah Secco, do primeiro time da empresa, é um sinal de coragem. Diz Deborah, em seu Twitter: “Bem, não sei o que a produção vai decidir, eu vou votar com todas as minhas forças para ele sair quando for para o paredão”.
Preta Gil também condenou o episódio, citando uma mensagem que viu no Twitter de Fernanda Paes Leme. A atriz, mais tarde, disse que alguém postou a mensagem e que nem sabe quem é Daniel – se assim foi, Fernanda, sem querer, ajudou a colocar lenha na discussão.
O link que apareceu na página de Fernanda no Twitter tinha um link para o vídeo do momento em que Daniel se movimenta sob o edredom. Mas, como quase todas as versões da imagem, foi retirado do ar. O site oficial do BBB ignora o tema. Mas o grau de controle que o BBB tem sobre o BBB é limitado. A mãe de Monique, que assistiu à cena, afirmou ao jornal carioca EXTRA que a filha estava “apagada”, mas que ainda não sabe se vai processar a emissora ou o próprio Daniel.
Apesar de ter supostamente dito a Boninho que não houve violência, Monique, pelo que fala dentro da casa, alimenta a dúvida: diz que não se lembra do que aconteceu, e que está “grilada”. Monique pode se beneficiar da dúvida. A Globo, não.
(Por João Marcello Erthal)





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