quinta-feira, 17 de março de 2011
XUXA novamente tenta proibir Filme que fez em 1982, quando aparece fazendo SEXU com adolecente("BAIXINHO")
Filme erótico de 1982 volta a assombrar Xuxa.
A apresentadora Xuxa
Meneghel está, mais uma vez, tendo problemas com o filme erótico que fez em
1982. Amor, Estranho Amor está fora do mercado há duas décadas, mas o produtor
Anibal Massaini (Pelé Eterno) diz que o trato estabelecido sobre a não
circulação do longa foi quebrado.
Massaini afirma que a loira não honrou o depósito de R$ 100 mil anuais (US$ 60
mil) nem formalizou nenhuma data para renovação do contrato de concessão dos
direitos, fazendo com que ele esteja oficialmente extinto.
Xuxa entrou com um recurso para que a produção permaneça no
limbo, enquanto a ação do produtor tramita desde o fim de 2010 no Rio de
Janeiro.
Além de a película conter cenas de nudez de Xuxa, há também uma cena de sexo
com um adolescente. Conforme a atriz solidificou sua carreira como
apresentadora infantil, foram iniciados os esforços para abafar a existência e
a comercialização do longa.
Linda Atriz de filmes Pornô-Soft: Xuxa vvira atração Bizarra em cinema americano
O cinema The CineFamily,
em Los Angeles, nos Estados Unidos, vai fazer uma mostra de filmes da Xuxa
neste sábado (17), chamada de Xuxa-Palooza! (uma alusão ao festival musical
Lollapalooza).
O curioso é que, no site do evento (www.cinefamily.org/), Xuxa é chamada de
"linda atriz de filmes pornô-soft que se tornou apresentadora infantil e
conquistou os adultos por três décadas por causa de sua alta tensão
sexual".
O filme que será apresentado é Super Xuxa contra o Baixo Astral, de 1988, que
os produtores do evento chamam de Super Xuxa vs. Satan (Super Xuxa contra
Satã), que mostra a protagonista em uma missão para salvar seu cãozinho Xuxo
das mãos do vilão, interpretado por Guilherme Karan.
O longa, que segundo o site tem conotações sexuais, será apresentado em uma
espécie de festa do pijama com dança, pintura de rostos, artesanatos e docinhos,
assim como era o antigo programa da apresentadora, o Xou da Xuxa (Globo).
Globo Tudo pelo IBOPE
Entrevista de Xuxa no “Fantástico” faz a Globo atingir 30 pontos
no ibope
Eu tenho orgulho de dizer que eu sou suburbana, mas até do que ser do
interior, eu sou do subúrbio. Quando eu me lembro de Bento Ribeiro , me vem o
trem, me vem eu tomando banho de sol na laje. São coisas que não saem da minha
cabeça, eu adoro!
Dos cinco irmãos, a minha irmã Sola era um pouco distante de mim, a Mara era
muito mandona, o Cira quase não falava comigo. Blad que cuidava de mim
o tempo
todo.
Eu tenho essas coisas: mãe muito presente, pai não presente. A mãe dando muito
carinho. A gente recebia beijo do pai só no Natal e Ano Novo. E o meu pai, que
era uma pessoa militar, distante, a gente tinha que chamar de Seu Meneghel. A
gente nunca falava ‘pai’, era sempre ‘o senhor quer isso, o senhor quer
aquilo’. Faltava quase bater continência para ele.
O começo
Uma das apresentadoras de TV mais queridas do Brasil. Uma gaúcha de origem
simples, filha de militar, que há mais de 30 anos saiu do subúrbio para o
estrelato. Foi modelo e depois virou atriz e cantora. Ficou famosa graças ao
seu jeito todo especial de lidar com as crianças. Xuxa, a Rainha dos Baixinhos,
todo mundo sabe quem é. Mas agora você vai conhecer Maria da Graça Meneghel. É
um depoimento corajoso. Revelador. Emocionante. Aos 49 anos, Xuxa se sente
pronta para contar o que viu da vida.
Quando estava voltando da ginástica olímpica, um garoto estava sentado do
meu lado no trem, ele estava com bastante revista, e eu fiquei olhando. Chegou
uma hora e eu falei: ‘Posso olhar uma?’. E minha irmã me olhou com uma cara do
tipo: ‘Você vai puxar assunto com um cara que tu nem conhece no trem?’. E aí eu
pedi desculpa, mas o cara me mostrou um monte de revista. E eu fiquei lá
olhando as revistas, adorei. E aí ele chegou e falou: ‘Você gostaria de ser
modelo?’. Eu tinha 15 anos. Eu falei: ‘Não. Não sou bonita. Não sou
fotogênica’. Eu desci em Bento Ribeiro e ele me seguiu. Aí fui até em casa e
depois de um tempo ele bateu na porta. Ele mostrou a identidade e disse: ‘Eu
trabalho na editora Bloch, mas eu trabalho no arquivo, arquivando revista. ‘Você
não tem nenhuma foto que você possa me dar?’. Eu chamei minha mãe e ela disse:
‘Não, ela não quer isso’. E eu falei: ‘Ah, mãe, eu não quero porque todo mundo
acha que eu sou feia, mas eu acho que eu quero’. Aí ela perguntou: ‘Você
quer?’. Eu sempre gostei de aparecer.
Quando eu comecei a fotografar com 16 anos, foi uma coisa estrondosa. As
pessoas começaram a me chamar demais para fazer fotografia. Então com 16, 17
anos eu já sustentava a minha família.
Uma vez, também falar de um trabalho que eu estava fazendo, veio o Maurício
Sherman, olhou pra mim e falou: ‘Quer trabalhar em televisão?’. Eu falei:
‘Caraca, como assim trabalhar em televisão?’. ‘Você tem uma coisa de Peter Pan,
você tem uma coisa da Marilyn Monroe, tem o sorriso da Doris Day. Eu acho que
criança vai gostar’. Eu falei: ‘Mas tem certeza?’.
Os amores
Nunca fui muito namoradeira. Me arrependo hoje. Acho que eu deveria ter
aproveitado mais. Mas eu chamava atenção mais de homens, dos maiores. E isso me
deu muito problema.
Eu tinha 17, fui fazer a capa de uma revista e era ‘Minha liberdade vale ouro’.
E ele mandou chamar uma morena, uma loira, uma negra e uma ruiva. Todas
vestidas de dourado. A morena era a Luiza (Brunet), a loira era eu. Só que na
foto ele (Pelé) virou um pouco mais pra mim, então ele saiu com a mão mais me
tocando. E as pessoas queriam saber quem era essa pessoa que ele saiu mais
virado. E começaram a falar que a gente estava namorando, e eu não estava
namorando ele.
Ele tinha convidado todo mundo para sair depois dessa foto. Na realidade ele
gostou foi da Luiza. Mas a Luiza era casada. Aí ele começou a conversa comigo,
ligava bastante, queria falar com a minha mãe, mandava flores para minha mãe. E
as pessoas começaram a falar cada vez mais. E um dia ele me deu um beijo. Me
deu um frio na barriga, aí eu achei que estava gostando dele. E ele foi uma
pessoa muito importante pra mim, eu gostei muito dele. Aprendi muita coisa boa,
muita coisa ruim. Eu fiquei seis anos com ele. Ouvia muita gente falar que era
porque ele era conhecido, ser famoso. Esse foi um dos motivos que eu quis me
separar dele logo no início quando eu vi que estava gostando de verdade dele.
Pena que eu era muito nova e ele muito conhecido e bem mais velho e não deu
valor a isso.
Um dia eu olhei uma revista e estava o Senna numa fazenda. E eu
pensei: ‘Olha só, um cara que gosta de bicho que nem eu, um cara com grana que
não vai querer minha grana, um cara conhecido que não vai querer se aproveitar
de mim, mas já tem namorada’.
E aí demorou uma semana, dez dias, ele ligou para a Globo, para tudo que era
lugar, para me procurar. Atendi o telefone e ele disse: ‘Eu quero te conhecer’.
E eu não podia falar: ‘Não, não quero’, porque eu tinha falado há pouco tempo,
para todo mundo ouvir, que eu queria conhecer o cara. Aí eu falei: ‘Mas eu
tenho um show para fazer’. E ele disse: ‘Mas eu vou mandar o meu aviãozinho te
buscar’. E eu disse: ‘Eu não ando de aviãozinho porque eu passo mal’. E ele
disse: ‘Não fica chateada não, mas eu tenho um avião um pouquinho maior’.
A gente se olhou, em vez de se cumprimentar a gente se tocou. A gente em vez de
se beijar, a gente meio que se cheirava. Ele tinha um astral muito diferente. A
gente ficou conversando horas e ele falou pra mim: ‘O que você vai fazer
amanhã?’. E eu disse: ‘Vou ver minha avó’. Aí ele falou: ‘Vou conhecer a sua
avó então’. Ele era muito rápido nessas coisas, mas a gente ficou se falando
por uns 15 dias. Falando mesmo, não teve beijo, não teve nada, se conhecendo.
Até achei esquisito: ‘Gente, será que ele não está interessado?’ Porque eu já
estava muito interessada.
Mas quando a gente ficou junto, a gente não se largou, foi um negócio muito
doido. Era como se tivesse uma coisa que encaixa de uma maneira tal. Ele
gostava das coisas que eu gostava, das mesmas cores, não gostava das frutas que
eu também não gostava. Eu sempre gostei de correr e eles sempre gostou de
criança. Então se eu fosse homem eu queria ser corredor e ele dizia que se ele
fosse mulher ele gostaria de ter a profissão que eu tinha. Então parecia que a
gente se completava de uma maneira. Eu estava trabalhando muito e ele
trabalhando muito também. Aí eu me separei dele, a gente se separou. A única
pessoa que eu pensei realmente em me casar foi com ele. E eu achei que iria
reencontrá-lo e que a gente ia ficar junto.
Ele morreu num domingo. No sábado, eu falei assim: ‘Onde é que ele vai correr?,
por que eu vou atrás dele’. Aí todo mundo: ‘Mas ele tá namorando’. Eu disse:
‘Eu sei, mas eu vou atrás dele, vou olhar pra ele e vou ver se eu sinto tudo
isso que eu acho que eu sinto e se ele ainda sente alguma coisa por mim e a
gente vai ficar junto’. Aí no domingo ele foi embora. Tem muita gente que passa
nessa vida sem conhecer uma pessoa que se encaixa desse jeito. Se existe a
palavra alma gêmea, a minha alma gêmea estava ali na minha frente. Ele tinha
tudo que eu queria, até eu desconfiava. ‘Não pode ser, esse cara deve ter lido
o que eu gosto de alguém assim’, porque ele fazia tudo que eu queria, ele tinha
o cheiro que eu queria. Não pode ter tudo numa pessoa só. Tem que ter defeito,
e eu não conseguia. A gente ficou dois anos juntos, um ano e oito meses. Depois
a gente se separou e ficou mais dois anos se vendo quase sempre. Um dia a gente
vai se encontrar de novo.
O preço da fama
Eu não tinha liberdade nenhuma, eu não tive privacidade nenhuma por um bom
tempo. Antes de eu entrar em qualquer lugar as pessoas tinham que entrar na
frente pra ver se tinha gente embaixo da cama, dentro dos armários e muitas
vezes encontravam gente no armário, gente embaixo da cama. Até hoje eu acho que
o preço mais alto é isso. Eu não tenho liberdade pra fazer as coisas que eu
gostaria de fazer às vezes. Eu não me privo de ir a um shopping, eu não me
privo de fazer compras, mas é meio que quase um evento. Às vezes eu atrapalho
as pessoas, às vezes as pessoas nas lojas se sentem mal porque muita gente
começa a querer entrar, quebrar, arrebentar. Então eu me sinto muito mal com
tudo isso. Se eu vou num lugar público, eu acabo atrapalhando, seja o que for.
Uma vez o Mickey veio falar comigo, falou que me amava, escreveu, porque eles
não podem falar. E foi correndo chamar a Minnie. E minha filha do lado: ‘Pô,
mãe, até o Mickey e a Minnie’. ‘Pô, Sasha, desculpa’.
Esse é o preço que eu pago. As pessoas que têm a liberdade de ir e vir e fazer
as coisas que eu não posso fazer, não podem viver o que eu vivo, não podem ter
o que eu tenho. Então eu aprendi que isso é o preço. Alto, mas eu tenho muita
coisa. Porque eu estou exposta a isso, eu vivo isso. Não só aceito, como gosto,
como quero. O dia que eu sair e uma criança não olhar pra mim, não quiser falar
comigo, eu vou dizer: ‘Opa, tem alguma coisa errada’.
A assessoria do Michael Jackson estava querendo que ele casasse, tivesse
filhos. E eles estavam buscando uma pessoa. Nessa época eu estava trabalhando
na Espanha. Fui chamada para o show dele. E eu, obviamente como fã dele, era
louca por ele, falei: ‘Eu vou ver!’. Tirei foto com ele, essas coisas todas.
Ele estava chupando pirulito, eu peguei o pirulito que ele estava chupando e
levei que nem fã.
Mas logo depois me chamaram pra ir pra Neverland, as pessoas queriam que eu
falasse com ele. Ele sabia tudo da minha vida, ele leu tudo sobre mim. Cheguei
lá, fui jantar com ele, a gente viu filme juntos, essas coisas todas.
E depois veio uma proposta do empresário dele: se eu não pensava em de repente
ficar com ele. Eu falei: ‘Como assim?’. É porque ele gostaria de ter filhos,
casar. E eles achavam muito legal ter essa junção. Uma pessoa que trabalha com
criança na América do Sul e ele que gosta de criança. Ele me mostrou só as
coisas de criança. Todos os clipes dele. Chorei, obviamente que eu ia chorar.
Do lado do Michael Jackson, sentada no cinema, na casa dele. Como eu não ia
chorar. Chorei, me debulhei. Ele pegava na minha mão, e quanto mais ele pegava
na minha mão mais eu chorava. Pra mim é um ídolo, mas de ídolo pra outra coisa
era muito diferente. Então não rolou. Minha resposta, obviamente, foi não. Eu
fico com a pessoa que eu me apaixono.
A mulher
A coisa mais difícil é o cara me aceitar do jeito que eu sou. Eu sou
complicada pra caraca. Eu sou muito independente, eu gosto de fechar a porta do
meu carro, gosto de dirigir, não gosto que ninguém pague as minhas contas, eu
gosto de liberdade, já que eu tenho tão pouco.
Não abro mão de ficar perto da minha filha por homem nenhum. Meu trabalho está
na frente porque também é uma coisa que eu preciso pra poder ajudar todo mundo.
Minha fundação depende de mim, minha família depende de mim, minha filha. E eu
preciso disso pra me sentir viva, me sentir melhor. Aí eu vou deixando porque
talvez um dia esse homem vá aparecer na minha frente, bater na minha porta,
como já aconteceu e rolar. E não rola assim. Não existe isso. Não vai ter essa
segunda vez. Esse alguém batendo na minha porta e dizendo: ‘Eu sou tudo isso
que você quer, estou aqui para você’. Então eu não estou procurando.
Mas às vezes, posso te dizer na boa, corre sangue aqui dentro e hormônio. Isso
que é o pior. Esses hormônios é que matam a gente. Eu estava crente que quando
eu chegasse aos 50 ia chegar calminha. Que nada! Aí se você me perguntar, eu
vou dizer: ‘Faz falta, faz muita falta’. Em quatro paredes, eu dependo muito do
cara. Mas até chegar em quatro paredes é que a coisa complica. Quando chega nas
quatro paredes, eu e ele, ele e eu, aí eu não penso em mais nada. Não penso em
trabalho, não penso em nada, não penso em ninguém. Aí as poucas pessoas que me
conhecem dizem assim: ‘Nossa, mas eu não achava que você era assim!’ Por quê?
Como eu ia ser? Queria muito saber o que passa na cabeça das pessoas.
O tempo, pra gente que trabalha em televisão, é um pouco cruel. Porque
eu canso de falar isso: ‘Nossa como aquela mulher era bonita e ela agora está
horrível’. E o tempo faz com a gente, as coisas caem, vão embora, descem. Eu já
falei: às vezes dá vontade de dar uma puxadinha, fazer igual minha chuquinha,
puxar tudinho, cortar e costurar, mas não dá pra fazer isso. E eu entendo que
as pessoas ficam afoitas porque a televisão agora mostra os poros, mostra os
detalhes todos. Então as pessoas querem puxar aqui, puxar ali. Fica todo mundo
com a mesma cara. Fica todo mundo igual. E eu não quero ter essa cara de
tamanco. Então eu vou ficar velhinha e todo mundo vai dizer: ‘Nossa, como ela
era e agora olha como ela ficou’.
A luta
Quando me chamaram pra fazer a campanha do ‘Não bata, eduque”, que seria
tentar mudar a cabeça das pessoas. E descobri que as crianças que estão na rua,
80% das pessoas que estão nas ruas se prostituindo - a palavra nem seria essa,
porque elas não sabem o que estão fazendo-, roubando, se drogando, sofreram
algum tipo de abuso dentro de casa. Algum tipo de violência dentro de casa que
fez com que ela saísse.
E quando as pessoas começam a me falar sobre as histórias dessas crianças, que
muitas vezes isso acontece dentro de casa, ou com o pai, ou com a mãe, ou com o
tio ou com o melhor amigo do pai, ou padrasto. Ou
seja: alguém muito conhecido dentro de casa que acabou abusando sexualmente
dessa criança e ela resolve sair de casa. Mas para ela poder comer ela acaba
fazendo isso nas ruas.
Isso me dá um embrulho no estômago porque eu consigo não só me colocar no lugar
delas, como eu abracei essas causas todas porque eu vivi isso. Na minha
infância até a minha adolescência, até os meus 13 anos de idade foi a última
vez.
Pelo fato de eu ser muito grande, chamar a atenção, eu fui abusada, então eu
sei o que é. Eu sei o que uma criança sente. A gente sente vergonha, a gente
não quer falar sobre isso. A gente acha que a gente é culpada. Eu sempre achei
que eu estava fazendo alguma coisa: ou era minha roupa ou era o que eu fazia
que chamava a atenção, porque não foi uma pessoa, foram algumas pessoas que
fizeram isso. E em situações diferentes, em momentos diferentes da minha vida.
Então ao invés de eu falar para as pessoas, eu tinha vergonha, me calava, me
sentia mal, me sentia suja, me sentia errada. E se eu não tivesse uma mãe, se
eu não tivesse o amor da minha mãe, eu teria ido embora, porque o medo de você
ter aquelas sensações de novo, passar por tudo isso, é muito grande. Só que eu
não falei pra minha mãe, eu não tinha essa coragem de falar com ela. E a
maioria das crianças, dos adolescentes passa por isso.
Eu não me lembro direito porque eu era muito nova, eu me lembro do cheiro.
Tinha cheiro de álcool, tinha cheiro de alguma coisa e eu não sei quem foi. E
depois aconteceram muitas vezes. Parou aos 13 anos, quando eu consegui fugir.
Agora tem essas coisas que pra mim doem, me machucam, me dá vontade de vomitar.
Quando eu lembro que tudo isso aconteceu e eu não pude fazer nada porque eu não
sabia, eu não tinha experiência. O que uma criança pode fazer? Eu tinha medo de
falar pro meu pai e meu pai achar que era eu que estava fazendo isso. Porque
uma das vezes que aconteceu foi com o melhor amigo dele, que queria ser meu
padrinho. Eu não podia falar pra minha mãe, porque uma das vezes também foi com
um cara que ia casar com a minha avó, mãe dela. Então, a errada era eu. Eu não
tinha experiência, não sabia o que era. Professores. Um professor chegou pra mim
e disse: ‘Não adianta você falar porque entre a palavra de um professor e de um
aluno eles vão acreditar no professor, não no aluno. E até hoje, se você me
perguntar por que aconteceu comigo, eu ainda acho que foi por minha culpa. E a
gente não pode pensar assim. Porque a criança não tem culpa, a criança não
sabe. O cara, o adulto, o homem, a mulher, a pessoa que faz isso com uma
criança sabe, mas a criança não.
Talvez eles deveriam ter notado que quando eu não estava falando muito, eu que
sou de falar demais, é porque estava acontecendo alguma coisa comigo. Mas na
inocência da minha mãe, que casou tão nova e com cinco filhos, ela não reparou
que eu que falava muito, em alguns momentos eu me calava. Por que você acha que
eu não consigo casar e ficar muito tempo com uma pessoa? Deve ter uma
explicação. Quem sabe não deve ser tudo isso que eu vivi? O fato de eu me achar
horrível, me achar feia, e as pessoas falarem: ‘Não, é bonita’. E eu falar:
‘Não, não sou’. Deve ter a ferida ali.
Eu nunca falei pra ninguém porque eu achava que as pessoas vão me olhar
diferente. Ou talvez não vão entender. Ou vão entender da maneira delas. Mas eu
só queria dizer que eu não entendo muitas vezes porque aconteceu comigo. E
porque eu não falei. E por que eu não soube dizer não, eu não sei. Talvez eu
tivesse que passar por tudo isso pra hoje eu chegar e dizer: ‘Eu quero lutar
por elas’. Eu tenho um sonho de um dia nenhuma criança sofrer nada porque
criança é um anjo. Aquele cheiro, que eu gosto de cheirar o pescoço, que tem...
O que eu vi da vida
Eu vi o que poucas pessoas puderam ver. Eu senti o que poucas pessoas
puderam sentir. Eu vivi o que pouquíssimas pessoas puderam viver. Eu vi o amor
verdadeiro através da minha mãe. Eu vi o amor verdadeiro através das crianças.
Eu acho que poucas pessoas viram ou viveram isso. E eu vivi um grande amor na
minha vida que foi rápido. Porque tudo pra ele era muito rápido, e que poucas
pessoas puderam viver e sentir, tão rápido e tão forte. E as outras coisas que
eu vi que eu não gostei, parece que eu vi um filme, parece que eu não vivi.
Então eu deixo só as coisas boas.